sábado, 20 de fevereiro de 2010

A-B-L-A-S-S-E-R-D-A-M


Ablasserdam é maravilhosa! A-B-L-A-S-S-E-R-D-A-M. Como acho legal pronunciar este nome. Trata-se de um pequeno vilarejo, vizinho de Kinderdijk, famosa cidade holandesa com aqueles gigantes e antigos moinhos. São 19 moinhos, total que foi suficiente para incluir a cidade na lista de patrimônios da humanidade da UNESCO.
Andar a pé por estas duas cidades é incrível, por aqui e ali se acha uma padaria, e o melhor é que a gente nem se da conta de que entrou no quintal dos outros. Não há cercas e portões, e as casas tem muito vidro, por onde se vê as salas mais aconchegantes da Europa, na minha opinião.

Os moinhos serviam para movimentar as águas e assim não deixar que inundassem a região. Há quem diga que esta é uma das áreas mais perigosas do mundo, e que já tem seus dias contados devido ao aquecimento global e ao aumento do nível da água. Dá-se a impressão de que o governo local esconde o fatal destino de Kinderdijk em poucos anos. Lenda ou não, viver lá, com certeza, é um privilégio.



sábado, 30 de janeiro de 2010

aS fÉRiAs dA mINhA viDa

Foram nove meses de preparação para aquela que seria minha primeira viagem internacional em minhas férias de trabalho, em dezembro. Um sonho cultivado desde a infância. Poder sair do Brasil para desvendar novas terras, novos ares, novos povos e um mundo completamente diferente a se descobrir.

A opção: Inglaterra. Um país surpreendente onde eu pudesse vivenciar um estilo de vida que eu só podia conhecer por meio de filmes e livros. Viajaria sozinho pelo Reino Unido, durante um mês, começando por Inglaterra, subiria até a Escócia, e então, Irlanda, de onde eu voltaria para o Brasil em 2 de Janeiro. Seria a oportunidade de aprimorar o inglês em uma aventura inigualável. Seria A viagem.

Uma mochila, diríamos minúscula, levaria o essencial para a aventura: algumas camisetas, calças, blusas, cuecas e meias, e um mapa com o roteiro da viagem. Eu estava indo para surfar nos sofás de várias famílias do Reino Unido que eu mantinha contato pela internet. Planejei e estudei detalhes. Cheguei a pensar que se eu planejasse menos e deixasse as coisas correrem e acontecerem, seria muito melhor.

Uma coisa eu tinha certeza, sabia que aquela viagem estava nas mãos de Deus. Eu sabia, pelo firme fundamento das coisas que se esperam, que Deus estava no comando, porque em oração eu tinha entregado tudo ao Senhor, e eu não daria um passo sequer se Deus não fosse comigo.



A passagem mais barata que achei na agência de viagens era por uma companhia aérea holandesa, e por isso, antes de chegar a Londres eu precisaria fazer conexão em Amsterdam. Não, Amsterdam, nunca! Relutei em ter que passar por aquela que é a cidade lixo do mundo, entretanto o bolso falou mais alto e eu comprei a tal passagem. Como a conexão era em Amsterdam, decidi ficar três dias na Holanda para conhecer o país antes de ir para a Inglaterra.

Foram anos de sonhos, meses de espera, e dias de ansiedade. A vida inventa! A gente principia as coisas no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.

Embarquei em São Paulo e desci em Amsterdam. Fiquei uma noite na casa de um casal muito simpático em um vilarejo no centro da Holanda e mais dois dias na casa de um jovem protestante em uma cidade ao sul do país. A Holanda é demais, amei este país. Os holandeses são amáveis e o país é maravilhoso, desde os diques até os campos de flores que se encontram por todos os lugares.


Saí de Amsterdam num sábado para ir a Londres, de avião. Tinha sido tão fácil entrar na Holanda que eu nem fiquei preocupado para entrar na Inglaterra. Era a maior euforia, e eu achava o máximo andar sozinho pra lá e pra cá nos aeroportos. Só que o inesperado aconteceu. Na cabine da imigração, um senhor indiano de estatura baixa e aparência que lembrava muito o fofão, me interrogava e começou a desconfiar da minha documentação. Achava minha mochila pequena demais para passar um mês no país, achava que eu não teria roupa suficiente para suportar o frio da Inglaterra, achava que eu não trabalhava no Brasil, achava isso e aquilo. Ele achava tanta coisa que eu comecei a achar que achava aquilo também, tamanha a oposição do sujeito.

Logo chegou uma moça que me levou para um lugar contrário à saída da imigração e aquilo me deixou espantado. Ela revistou minha mochila e quis verificar meus pertences e me levou para o subsolo do aeroporto. Eu, cada vez mais nervoso com a situação, começava a prever o que estava para acontecer.

Deixaram minha mochila e meus pertences trancados em um quarto e fui levado para uma sala que mais parecia uma celinha. Lá eu encontrei um brasileiro de Floripa que me disse que tinha sido deportado no dia anterior, passou a noite naquele lugar, e estava esperando o vôo para o Brasil. Aquilo pra mim foi um conto de terror. Não era um balde de água fria que jogavam em mim, era um tanque de água fria.

Tirei fotos como um presidiário, copiaram todas as minhas digitais e fui entrevistado por uma inglesa tão rude e grosseira que eu jamais imaginei ser tratado assim um dia. Mais tarde fui saber que regularmente os brasileiros têm um tratamento diferenciado naquele lugar. Não era a tôa que os jovens brasileiros enchiam aquela salinha.



Enquanto o resultado da investigação sobre a minha viagem não chegava, o nervosismo tomava conta de mim. Era o sonho de uma vida inteira que estava em jogo. Eu me sentia um criminoso que estaria a pagar por um crime que não cometi. Naquele momento eu clamei a Deus e fiz o que Ele esperaria que eu fizesse. Dei glórias a Deus e roguei a Ele pelo livramento, e com sinceridade e alegria no coração aceitei o que Ele decidisse por mim. Se fosse da vontade de Deus que eu voltasse ao Brasil deportado, eu louvaria o Seu santo nome, porque certamente Deus opera para o melhor na vida daqueles que esperam nEle.


Juntei-me a um grupo de jovens crentes brasileiros, que também aguardavam pela resposta da imigração naquela celinha, e com a bíblia nas mãos oramos juntos e profetizamos naquele lugar. A palavra de vitória foi liberada naquele lugar.
Quando trouxeram o documento do Departamento de Imigração com o resultado da análise do meu caso, foi o maior choque. Posso dizer que foi a maior decepção da minha vida, tamanha era minha ansiedade em entrar na Inglaterra. O documento dizia que minha entrada no país tinha sido recusada e eu seria deportado no dia seguinte.
Como aproveitaram minha passagem de volta que eu mesmo tinha comprado, trocando a data, eu teria que fazer uma conexão em Amsterdam para voltar ao Brasil no dia seguinte.

Passei a noite naquela sala tentando dormir pelo menos um pouco, afinal eu teria que estar bem descansado para no outro dia planejar algum tipo de fuga no aeroporto de Londres ou de Amsterdam. Quem sabe eu acharia uma porta aberta em algum lugar onde eu pudesse escapar dos agentes da Imigração. Quem sabe eu acharia um meio de sair correndo pelo hangar antes de entrar no avião. Afinal, nunca se sabe.

Ora, pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu a Deus, saindo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé os israelitas atravessaram o Mar Vermelho, como por terra seca; e tentando isso os egípcios, foram afogados. Pela fé caíram os muros de Jericó, depois de rodeados por sete dias.
No outro dia, pela manhã, os agentes da imigração me colocaram dentro do avião que iria para Amsterdam. Eu orava ali dentro do avião, e com a autoridade no nome de Jesus eu orava para que enquanto não fosse feita a vontade de Deus aquele avião não sairia do lugar. Irmãos, acreditem, o avião não decolava de jeito nenhum, e aí mais eu orava. Por fim, decolamos depois de mais de uma hora depois, e praticamente todos que estavam naquele avião perderam suas conexões, inclusive eu. Ô Glória !!!


Já que eu teria que esperar mais um dia para ter que voltar ao Brasil, pela graça de Deus, consegui remarcar minha passagem para 1º de janeiro e sair do aeroporto ileso. Liguei para minha família e bradei: consegui !!!!!


A partir daquele dia, sem planos e sem rota, comecei a vagar sem rumos pela Europa. Eu dormia em albergues onde encontrava jovens do mundo inteiro, viajando com uma mochila nas costas como eu. A diferença era que eu dormia sem saber para onde iria no outro dia. Não sabia que dia da semana era, e nem sequer relógio tinha levado.
Diz um ditado inglês que os perdedores não podem cortar a mostarda. Sim, tentaram matar meus sonhos, mas nunca matariam minha fé. Ainda que tirassem de mim os meus pertences, jamais tirariam de mim a esperança. Nunca abalarão a minha fé, pois eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.



Nestes dias que estive sem rumo pela Europa vi coisas que jamais imaginei que veria um dia. Fiz coisas que sempre sonhei em fazer. Andei por oito países e conheci tudo aquilo que eu precisava conhecer. Saí da rotina, andei até não agüentar mais, fiz boneco de neve, cantei alto nas ruas onde ninguém entendia a minha língua, subi montanhas, desci vales, comi chocolate até dar dor de barriga, fiz amizade com orientais e muçulmanos. Estas, certamente, foram as férias da minha vida.